As Jóias da Coroa

Estávamos no mês de Dezembro de 2002. Com uma endémica ausência de receitas e na ânsia de amealhar uns patacos e equilibrar as contas públicas desse ano, o governo de José Manuel Durão Barroso deitou a mão a tudo. Febrilmente e com os olhos em alvo decidiu alienar tanto património quanto possível, levando a hasta pública desde edifícios de ministérios, quintas e quintarolas, até soberbos fortes, quartéis e conventos, passando por palacetes, velhas estações de caminhos-de-ferro, escolas, casas de cantoneiros e uns quantos abrigos de guardas-florestais.

Se por um lado, com aquela fúria alienatória, ia entrando algum dinheiro, por outro aconteceu o inverso. De um dia para o outro, ocorreu o roubo de algumas das jóias da coroa portuguesa, na altura em que elas se encontravam emprestadas à Holanda, na exposição temporária de um museu. Aquelas peças desapareceram como por encanto, levadas por uns gatunos altamente profissionais, que conseguiram ludibriar todas as medidas de segurança, bloqueando um sofisticado sistema de alarmes que não funcionou (ou foi deliberadamente desligado), "trabalhando" a poucos metros de uma brigada de seguranças, postados em frente de monitores de videovigilância, que para cúmulo não registaram nada. Por cá a consternação foi tal que nem se chegou a apurar se entre as vendas do património imobiliário e o roubo das jóias, tinha sobrado algum saldo de jeito. Foram-se os anéis mas ficaram os dedos, foi a frase com que a sempre oportuna sabedoria popular, rematou a ocorrência.

No entanto, na altura houve quem aventasse que aquele roubo das jóias encerrava uma história diferente. Que na impossibilidade prática de o Estado levar a cabo um qualquer leilão das ditas jóias, teria sido concebido um engenhoso plano, que passava por conciliar os interesses dos ladrões e do Estado português. Assim, os gatunos dariam o golpe, levavam as jóias, e o Estado português, acto contínuo, seria indemnizado no valor de alguns milhões de euros, os quais iriam compor a frágil coluna das receitas, das exaustas contas públicas do país. Os ladrões ficavam com o odioso da acção e o Estado português ficava apenas com a tarefa de ter que se indignar e lamentar o sucedido.

Só em Março de 2015, doze anos depois do roubo, se voltou a falar das jóias da coroa portuguesa, para se saber que as  investigações das autoridades holandesas sobre o paradeiro das mesmas tinham sido inconclusivas, apesar de muita coisa ter ficado por explicar. O Estado português acabou por receber uma indemnização de 6 milhões de euros, o espólio do Palácio Nacional da Ajuda ficou despojado daquelas valiosas peças, e não se fala mais no assunto, a não ser que....

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