Livros e Piromaníacos
Tive o meu primeiro sobressalto que quase tocou a raiva, quando assisti, nos anos 60 do século passado, ao filme de François Trufault, que se intitulava FARENHEIT 451, baseado na novela de ficção futurológica de Ray Bradbury, esse mesmo, onde as brigadas de bombeiros tinham a diabólica missão de atear o fogo a bibliotecas inteiras, reeditando os autos de fé do III Reich, e onde os poucos resistentes, optavam, cada um, por decorar uma obra da sua preferência, para mais tarde a declamar de memória, salvando-a assim de um trágico e fatal esquecimento. À época, lembro-me de ter ficado revoltado, porque todos os tostões que amealhava eram para resgatar livros em segunda mão aos alfarrabistas de rua (como aquele concorrido pátio ao lado do cinema Éden), e não concebia que o fruto da criatividade do espírito humano, adquirido com tanto sacrifício, e tratado com tanto cuidado e desvelo, pudesse ser inspiradora de mais perseguições e combustível para alimentar fogueiras. Bastava-me saber qu