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A mostrar mensagens de julho, 2018

Livros e Piromaníacos

Tive o meu primeiro sobressalto que quase tocou a raiva, quando assisti, nos anos 60 do século passado, ao filme de François Trufault, que se intitulava FARENHEIT 451, baseado na novela de ficção futurológica de Ray Bradbury, esse mesmo, onde as brigadas de bombeiros tinham a diabólica missão de atear o fogo a bibliotecas inteiras, reeditando os autos de fé do III Reich, e onde os poucos resistentes, optavam, cada um, por decorar uma obra da sua preferência, para mais tarde a declamar de memória, salvando-a assim de um trágico e fatal esquecimento. À época, lembro-me de ter ficado revoltado, porque todos os tostões que amealhava eram para resgatar livros em segunda mão aos alfarrabistas de rua (como aquele concorrido pátio ao lado do  cinema Éden), e não concebia que o fruto da criatividade do espírito humano, adquirido com tanto sacrifício, e tratado com tanto cuidado e desvelo, pudesse ser inspiradora de mais perseguições e combustível para alimentar fogueiras. Bastava-me saber qu

Ah, Querida Loucura!

Em Setembro de 2002 foi publicada na II Série do Diário da República a aposentação do Juiz Desembargador Dr. José Manuel Branquinho de Oliveira Lobo, a quem foi atribuído o número de pensionista 438.881. De facto, no dia 1 de Abril de 2002 (que por coincidência é dia das mentiras) o Dr. Branquinho Lobo compareceu perante uma Junta Médica que, por força de uma doença do foro psiquiátrico, considerou a sua incapacidade para estar ao serviço do Estado, o que foi determinante para a sua passagem à situação de aposentado. Foi beneficiado com a passagem à reforma sem qualquer penalização, tanto de tempo de serviço como de vencimento, passando assim a auferir uma razoável pensão de aposentação, no montante de 5.320,00 euros (qualquer coisa como 1.066.564$20 em moeda antiga). Dois anos passados, por resolução proferida no dia 30 de Julho de 2004, o Conselho de Ministros do Governo do Sr. Pedro Santana Lopes, achou por bem nomear o antigo Juiz Desembargador para Director Nacional da Polícia

A Cultura

Há muito, muito tempo, houve um programa na RTP2 chamado ACONTECE. Era considerado o único programa diário, de âmbito cultural que sobrevivia no espaço europeu, desempenhando um meritório papel no contexto do serviço público de televisão. Ora aquele programa, em Fevereiro de 2003, já andava debaixo de olho do ministro da Presidência do XV Governo Constitucional, um tal Nuno Morais Sarmento, que já fora "boxeur", e que entendia que programas de índole cultural eram caríssimos, só interessavam a uma reduzida faixa de portugueses, talvez para aí uns 163.000, logo uma audiência insignificante, e que colocava em séria desvantagem a maioria da população, pois não se justificava o desperdício daquele tempo de antena, com temáticas tão pouco apelativas. É esquisito ouvir um ministro a falar assim sobre cultura, como se a cultura fosse alguma pestilência, ou coisa para ser tratada abaixo de cão. Aliás, não era o marechal nazi Herman Goering que dizia que "sacava logo da pistola

Os Dias Não São Todos Iguais

Era o dia 11 de Setembro de 2003. Tinha acabado de acordar, eram quatro horas da madrugada e lembrei-me que tinha recebido pelo correio uma simpática oferta da FNAC: um CD duplo com 30 canções, tantas quantos os festivais da canção. Revi a Desfolhada, a Tourada, Uma Flor de Verde Pinho, o Sol de Inverno e mais um punhado de baladas e balelas. Era 11 de Setembro de 2003, e alegrei-me por mais uma vez ter conseguido sobreviver a todos os 11 de Setembro notáveis que povoam a História, desde que me conheço. Do tenebroso 11 de Setembro de 1973 até ao abominável 11 de Setembro de 2001, todos eles a virarem do avesso as nossas convicções e a ocuparem muito espaço nas nossas preocupações. Até hoje.

As Jóias da Coroa

Estávamos no mês de Dezembro de 2002. Com uma endémica ausência de receitas e na ânsia de amealhar uns patacos e equilibrar as contas públicas desse ano, o governo de José Manuel Durão Barroso deitou a mão a tudo. Febrilmente e com os olhos em alvo decidiu alienar tanto património quanto possível, levando a hasta pública desde edifícios de ministérios, quintas e quintarolas, até soberbos fortes, quartéis e conventos, passando por palacetes, velhas estações de caminhos-de-ferro, escolas, casas de cantoneiros e uns quantos abrigos de guardas-florestais. Se por um lado, com aquela fúria alienatória, ia entrando algum dinheiro, por outro aconteceu o inverso. De um dia para o outro, ocorreu o roubo de algumas das jóias da coroa portuguesa, na altura em que elas se encontravam emprestadas à Holanda, na exposição temporária de um museu. Aquelas peças desapareceram como por encanto, levadas por uns gatunos altamente profissionais, que conseguiram ludibriar todas as medidas de segurança, bloq

Das Leis de Nuremberga à Lei do Estado Judeu

As duas Leis de Nuremberga, a da Protecção do Sangue Alemão e da Honra Alemã, foram introduzidas na Alemanha Nazi, em sessão do Reichstag, de 15 de Setembro de 1935. Ambas as leis proibiam os casamentos, as relações sexuais fora do casamento entre judeus e alemães, bem como o emprego de mulheres alemãs em casas de judeus. Por sua vez a Lei da Cidadania do Reich, estabelecia que apenas pessoas com sangue alemão ou ariano, eram elegíveis para serem cidadãos do Reich; os restantes eram classificados como sujeitos do estado, sem qualquer tipo de direitos civis e de cidadania. A lei sofreu uma actualização em 26 de Novembro de 1935, a fim de serem incluídos os indivíduos de raça cigana e os negros. Daí para a frente os cidadãos judeus foram sujeitos a toda a espécie de perseguições e violências, proscritos da sociedade alemã, com a proibição do exercício de actividades profissionais e destituídos de todos os direitos. No período da II Guerra Mundial o governo alemão recorreu sistematicamen