Deuses e Deuses



Se bem que as religiões monoteístas tenham livros sagrados, como a Torah, o Talmude, a Bíblia, os Evangelhos e o Corão, os deuses olímpicos apenas habitam em mitos (daí haver mitologias), muitos deles anteriores à própria escrita, que sobreviveram por via oral, mas que ainda assim dá para tirarmos algumas conclusões interessantes. 

Assim, os deuses do Olimpo têm grandes vantagens sobre o Deus das religiões monoteístas, por várias razões. Muito embora tenham um deus supremo que é Zeus, os deuses olímpicos não reclamam ser adorados, não doutrinam nem ditam sentenças, não castigam nem são exigentes com a espécie humana, em matéria de veneração ou exclusividade de culto, muito embora possuam atributos que os humanos veneram, sendo também inspiradores de bons e maus comportamentos, pois também os deuses são possuidores de defeitos e virtudes. Não vale de nada pedir-lhes algo, porque não nos atendem nem fazem milagres. Olimpicamente falando, não se intrometem na nossa vida nem nos nossos assuntos. Os pecados não são contabilizados para se chegar ao Paraíso, e castigos divinos depois da morte, também não os há. Se há patifarias, cá se fazem e cá se pagam. Cada deus tem áreas específicas à sua responsabilidade. Uns são patronos das artes, outros das ciências, outros das colheitas, outros do amor, outros da guerra e assim sucessivamente. Há cultos, é certo, mas são mais celebrações e rituais festivos que manifestações de devoção. Dizem os mitos gregos que os Jogos Olímpicos antigos teriam tido como progenitores Zeus e seu filho Hércules, seriam uma celebração em honra de Zeus, tinham lugar todos os quatro anos e todas as guerras cumpriam uma trégua enquanto decorriam na cidade de Olímpia. Curiosamente, não existe uma classe sacerdotal organizada, e não existem demónios, nem dentro nem fora do Olimpo, que andem a atazanar os corpos e os espíritos. Não há pares de crentes a baterem às portas a fazerem proselitismo, a pregarem as "boas novas" ou apocalipses, e os meninos não têm que ir à catequese ou à madrassa. Nunca houve guerras religiosas, nem papados, nem inquisições ou autos-de-fé. Tal como os humanos - que gostam de imitar, tanto nas virtudes como nas imperfeições -, aqueles deuses amam-se, digladiam-se e descarregam os seus ódios e iras entre si, chegando mesmo a chacinar-se, mas sempre dentro do seu círculo familiar, sem nunca envolverem ou afectarem os humanos, muito embora em situações excepcionais, desçam do Olimpo à Terra e possam andar por aí sob disfarce, gerando filhos semideuses. Convencidos da nossa superioridade moral, costumamos chamar-lhes pagãos. Valha-me Zeus!

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