"Choque Tecnológico"


Em Agosto de 2010, o que estava na ordem do dia era o chamado "Choque Tecnológico", embalado na onda do computador "Magalhães", que andava nas mãos das criancinhas e nas bocas do mundo. As exigências da administração pública não tinham duas leituras; para se aceder aos benefícios, ou se deixava de ser um info-excluído, ou nada feito. Podíamos não ter dinheiro para mandar cantar um cego, pagar a factura da electricidade ou do telefone, mas que íamos a caminho dos países da linha da frente, lá isso era um dado adquirido. O engenheiro incompleto José Sócrates, nos seus êxtases pantagruélicos, mais preocupado com embalagens vistosas do que com a qualidade do produto, só via autoestradas e TGVs a rasgarem o país, pontes por todo o lado, aeroportos de última geração feitos à pressa, e em cada português um internauta arrancado a ferros, custasse o que custasse. Depois de ter sido feito o enterro ao "papel selado", iam acabar-se também as peregrinações às repartições, as resmas de atestados e as filas de espera. Ser pobre, idoso ou analfabeto, já não era desculpa. Daí a razão de ser deste folheto, uma ficção é certo, mas que tinha todos os ingredientes para se tornar realidade.
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Se é beneficiário do Rendimento Social de Inserção (RSI) ou de qualquer outra prestação social, tem que arranjar um computador, ter acesso à Internet e possuir uma conta de e-mail, a fim de responder aos questionários e fazer prova dos seus rendimentos. Se não tem computador, peça ajuda a quem tenha. Nós, os Serviços de Segurança Social damos uma ajuda preciosa: oferecemos-lhe um Manual de Instruções, onde lhe explicamos os passos necessários para utilizar os serviços, e fique sabendo que o desrespeito dos prazos estabelecidos ou as falsas declarações motivam a suspensão, durante dois anos, das prestações familiares, subsídio social de desemprego, Rendimento Social de Inserção e apoios sociais de parentalidade. E não se esqueça do seguinte: os pobres, os idosos e os analfabetos, lá por serem pobres, idosos ou analfabetos, não têm que ser tecnologicamente excluídos ou ignorantes, e o Ministério do Trabalho e Solidariedade Social (MTSS), pedra angular do "nosso estado social", está empenhado em zelar pelos seus direitos e bem-estar, transformando-o a si, num dos nossos mais queridos beneficiários do Choque Tecnológico. No fundo, temos apenas dois objectivos: que os nossos pobres sejam poucos, mas que sejam pobres de excelente qualidade.

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