As Tias

Há uns meses abriu um novo café na minha rua. O dono é simpático, a empregada é atenciosa, mas o negócio não está a correr nada bem. Apesar de muito asseado e bem fornecido, o café apenas dispõe de seis mesas. Acontece que todas as manhã, cinco adoráveis "tias”, entram de rompante, pelas nove da manhã, ocupando cada uma a sua mesa, isto é, cada macaca no seu galho, e deixando vaga a do centro do estabelecimento, para quem não se importar de levar com fogo cruzado. O resultado é que os clientes passam na rua, espreitam e desistem de entrar. Entretanto elas palram entre si, comentando a CARAS, a VIP e a LUX, trocando as habituais banalidades sobre festas, namoros e divórcios, de mesa para mesa, em voz alta, até à uma da tarde, consumindo apenas um garotinho e um brioche, esvaziando os porta-guardanapos e bebericando nas garrafas de água que trazem de casa. Voltam às quatro e só despegam às sete. Raramente falham. São muito amigas, mas nem nas mesas se misturam, pois é preciso manter o ambiente despoluído e espantar os indesejáveis. O senhor Brito é que já não sabe o que há-de fazer para se livrar das gralhas, que lhe enxotam toda a clientela. Estava reformado, empatou ali todas as suas economias e o prejuízo não pára de engrossar. Vai fechar em Agosto para ir à terra e depois logo se vê.

O senhor Brito voltou em Setembro mas não abriu o café. Optou por fazer algumas obras. Acabou com as mesas e cadeiras, mandou fazer um balcão em "U" e mudou o negócio para uma loja de sopas. Admitiu uma sopeira, tinha uma ementa fixa de três sopas, caldo verde, canja de galinha e sopa juliana, cheias de substância e muito concorridas. Vendia para fora, os clientes comiam em pé, de costas uns para os outros e não se demoravam. Foi um sucesso e o senhor Brito começou a prosperar. Das "tias" não voltou a haver notícia.

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