Falar de Festivais


Dizer alguma coisa sobre o Festival da Eurovisão a decorrer em Israel, país que mantém em progresso a sua política de extermínio, demolições, ocupação e expropriação dos territórios palestinianos, não me seduz nem entusiasma, e esse é um sentimento que já vem de longa data. 

Há cinco anos, em Julho de 2014, quando os jornalistas ainda tinham alguma liberdade de movimentos e a comunicação social portuguesa ainda divulgava notícias sobre o conflito israelo-palestiniano, fiquei impressionado com descrições e respectivas fotos, que falavam da existência de um fenómeno insólito. Todos os dias, mas com maior afluência aos fim-de-semana, num morro da cidade israelita de Sderot, sobranceira à Faixa de Gaza, existiam umas esplanadas improvisadas que convidavam ao piquenique, onde os israelitas se juntavam em ameno convívio, para dali assistirem, ao vivo e a cores, como se de um espectáculo de fogo-de-artifício se tratasse, aos bombardeamentos com que a artilharia e a força aérea do seu país, dizimava os palestinianos, nos seus bairros residenciais.


De lá para cá, não consigo conviver com essas imagens, nem com o sentimento de repulsa que elas me despertaram, e pergunto a mim mesmo como é possível haver quem vá até lá, seja por mera curiosidade, ou para fazer qualquer tipo de turismo, mesmo que religioso, e que de forma fria e distante consiga manter-se indiferente, como se nada estivesse a acontecer. Comigo, entre a revolta e o nojo, senti um vómito que persiste até hoje.

Comentários