Deitar o Voto


Nota prévia – Não publiquei este artigo no Facebook porque estávamos no período de reflexão. Dizem as regras que nesse período devemos abster-nos de dizer coisas que possam influenciar, perturbar ou criar confusão no espírito dos eleitores. Ultrapassado o acto eleitoral, aqui vai o sermão.

Como nos lembrou o tio Marcelo, não se esqueçam de ir votar, porque a abstenção muito alta, pode lesionar a democracia. Diz ele que o Parlamento Europeu não pode ser composto apenas com os votos de 30% dos eleitores europeus, muito embora se tenha esquecido de referir que os burocratas que na realidade governam a Europa, nem sequer são objecto de escrutínio popular. O tio Marcelo Insurgiu-se contra a abstenção, mas não apontou as suas causas e remédios, e introduziu uma curiosa inovação que levanta sérias preocupações: quem não vota, não tem direito a queixar-se ou a reclamar. Homessa! Oh tio, não havia necessidade! 
Mas não desanimem. É habitual os políticos não dizerem a verdade toda, porque senão esgotavam-se os assuntos, ficavam as cartas todas na mesa, e desaparecia aquele grau de magia e imprevisibilidade que dá cor à política. Por exemplo, se ele dissesse que grande parte dos problemas com que Portugal se debate, resultam de imposições da União Europeia, instalava-se uma grande balbúrdia e caía o Carmo e a Trindade. Se ele dissesse que ficámos com a agricultura, pescas e outras actividades económicas desmanteladas, convertendo o país produtor num país consumidor, e que isso se deveu à União Europeia, aqui d'el rei que a coisa não foi bem assim. Se ele dissesse que os fundos estruturais que recebemos, não tiveram aplicação prática porque foram encaminhados para outros fins, ou então desviados para parte incerta, havia de ser o bom e o bonito. Ora se a União Europeia é uma coisa assim tão boa, porque é que há países europeus que nunca pediram a adesão, e outros, como o Reino Unido, que até nem embarcou na adopção da moeda Euro, quer agora também abandonar a União? Será porque é apenas uma união dos grandes interesses franco- alemães, ou porque se tornou um projecto falhado? Se uns fogem de dar resposta a estas perguntas, outros há que dizem que não ganhamos nada em chorar sobre o leite derramado. O que é preciso, como ele diz, é ganhar coragem, ir à missa para ouvir os conselhos que o senhor padre tem para dar, ir até à assembleia de voto, meter a cruz no quadrado, deitar o boletim na urna e depois já podemos ir à vossa vida. Até lá, para ganharem força e energia, façam como o tio Marcelo, que antes de ir votar vai sempre à praia molhar o calção de banho, tonificar os músculos, limpar as vias respiratórias e tirar uns retratos. Esta receita é remédio santo. Ficamos bem com a consciência e não se fala mais nisso. Só mais uma coisa: na praia, evitem sempre as alforrecas e os cagalhões que habitualmente andam enrolados na rebentação. As alforrecas possuem células urticantes com neurotoxinas, com funções paralisantes que podem provocar choques anafilácticos, e as fezes são portadoras de uma vasta gama de bactérias, que se dão mal com a saúde. Se o bicho for uma anémona, tenham também cuidado, pois além de provocar os mesmos estragos que a alforreca, tem uma boca que também funciona como ânus, exactamente como certos políticos. Votem bem.

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