As Infames Portas Giratórias
Quando começaram a despontar os anos 90 do século passado, ainda eu alimentava a ideia de ter uma actividade paralela à que tinha como informático, lançando-me a escrever um romance. Entre velhos recortes de jornais, recibos da água e da luz, descobri agora alguns papéis que atestam aquela tardia intenção. Com um título já atribuído (As Infames Portas Giratórias), uma lista de tópicos à maneira de guião e alguns parágrafos alinhavados, ensaiava os passos para passar à acção. Sobre ter atribuído à partida o título da obra, coisa que habitualmente os escritores escolhem depois da obra terminada, soube uns anos mais tarde, através de uma entrevista, que o Saramago também usava o mesmo processo. Primeiro encontrava o tema do romance, condensava-o no título, e depois a obra ia-se expandindo a partir daí. Comecei a escrevinhar mas o entusiasmo começou a perder força quando constatei que o romance avançava a custo, aos repelões, com demasiadas paragens forçadas. Parecia um barco encalha