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A mostrar mensagens de outubro, 2018

TROVEJA EM SANTIAGO. DILÚVIO EM BRASÍLIA

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Nunca mais esqueci uma reportagem exibida na televisão, na altura em que Augusto Pinochet esteve detido no Reino Unido, entre 16 de Outubro de 1998 e 2 de Março de 2000, devido ao mandato de detenção e extradição formulado pelo juiz Balthazar Garzón, da Audiência Nacional de Espanha, para que o ex-ditador respondesse pelos crimes de genocídio, tortura e assassinato de cidadãos, ocorridos durante o seu mandato, à frente da ditadura militar chilena. Na altura fiquei perplexo com o atrevimento, imaginando que iria ser feita justiça, porém, foi apenas uma falsa esperança. Quase ano e meio depois, e recorrendo a múltiplas ajudas e expedientes, Pinochet libertou-se da ameaça e regressou serenamente ao Chile e à mesma Santiago que, 13 anos atrás, havia visto o "santo" João Paulo II, aparecer ladeado do infame sanguinário, numa das varandas do fatídico palácio de La Moneda. Essa tal reportagem, dizia eu, realizada nos bairros pobres da periferia de Santiago, de ruelas fétidas

O LEOPARDO

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Em Março de 2007, escrevi no meu blog O ESCREVINHADOR o seguinte: Há filmes que não me canso de rever. O Leopardo (Il Gattopardo), de Luchino Visconti (1906 - 1976), foi coisa que me fez salivar durante muitos anos, limitando-me a revê-lo nos fogos-fátuos que persistiam na minha memória, e de que só agora me consegui desedentar, com a recente edição em DVD. Baseado na obra homónima de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, descreve os momentos mais conturbados da vida de uma família rural da aristocracia siciliana, dando especial atenção ao seu patriarca, o Príncipe Don Fabrizio De Salina (Burt Lancaster). O tempo é o do Risorgimento Italiano, ocorrido à volta de 1860, aquando do levantamento do guerrilheiro José Garibaldi, cuja revolta conduziu à unificação italiana. A pessoa de Garibaldi está ausente do filme, mas estão sempre omnipresentes os temores que desperta. Toda a Itália estava em ebulição, em mudança. Uma aristocracia latifundiária, mas quase falida, perdia terreno para uma

O QUARTETO DE ALEXANDRIA

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O Quarteto de Alexandria, de Lawrence Durrell (1912-1990), é uma tetralogia composta pelos volumes Justine (1957), Balthazar (1958), Mountolive (1959) e Clea (1960). Se quisesse usar expressões-chave para classificar a obra, diria simplesmente que é notável e fascinante, sob todos os aspectos. Desde a força telúrica que emana da cidade fundada pelo macedónio Alexandre, até aos retratos das personagens que a habitam, que por ela se apaixonam e por ela se deixam devorar, é uma espiral de descobertas, onde tanto se mergulha até águas profundas, como de repente se vem cá acima respirar em grandes haustos. É um teorema sobre a condição e as relações humanas, as íntimas e as outras, de uma riqueza e espessura que nos deixa atónitos, senão mesmo atordoados. É um friso de quatro figuras básicas, que embora sendo centrais, são mais observadores que protagonistas, servindo mais de escalpelo para, entre avanços e recuos na linha do tempo, esgravatarem tudo o que o ser humano tem de bom,