O Graal



O Graal não é um objecto, embora haja quem continue a acreditar que é o recipiente de onde é suposto Jesus ter bebido na última ceia, tenha recebido o sangue da sua crucificação, e que seja uma fonte milagrosa para quem o possuir. Há 2.000 anos que é procurado. ocupando o vértice - a par da Arca da Aliança -, das relíquias mais desejadas. Museus e colecções particulares anseiam pela sua descoberta. Mas o Graal não é um objecto. Nem um oráculo. Não é um objecto perdido algures, de que se procura o paradeiro, mas sim um destino longínquo que se pretende demandar, mas para o qual não há mapas nem rotas já traçadas. Projecção da imaginação, o Graal é um caminho. Caminho interior entre os muitos caminhos da nossa existência, que convergem, divergem e se bifurcam. O Graal é uma ideia, entrecruzada, em tudo semelhante a um labirinto. Tanto pode sentir-se e ter volume, ou tornar-se volátil como uma nuvem. É um tutor em que nos apoiamos para escolhermos rumos e tomar decisões. Cada um de nós tem o seu próprio labirinto, de desenho único e traçado mais ou menos complexo, pessoal e intransmissível, um caminho estreito, feito de avanços, recuos, passagens sem saída e regressos ao ponto de partida. Na vida real há poucas ou nenhumas escolhas lineares, portanto, é sempre o labirinto e o caminho das pedras o que nos espera. Aborda-se com humildade e prudência, tacteia-se, quantas vezes sem coordenadas precisas. Percorrê-lo é aceitar entrar sem bússola noutra dimensão. Como disse Fernando Pessoa, "ninguém se perde, tudo é verdade e caminho", seja uma ponte para um conhece-te a ti mesmo, ou um passo para um descobre-te a ti próprio. Quando num processo por tentativas percorremos os caminhos do labirinto, carregados com as nossas virtudes e imperfeições, crescemos dentro de nós, e a razão é o fio de Ariadne que nos mantém ligados à realidade. As recompensas são imateriais e o produto final apenas ocupa espaço na nossa auto-estima e realização pessoal. Não possui luz própria mas ajuda-nos a encontrar a nossa. É uma missão e não uma obsessão. É um desafio para ser percorrido e não um troféu para ser conquistado e exibido. Fazendo lembrar uma válvula que concilia exigência com excelência, é um instrumento de pesquisa, reflexão, revelação, descoberta e aperfeiçoamento pessoal. Com os inícios e os pontos de chegada sempre a renovarem-se, o Graal é o espírito inquiridor e criador que trazemos em nós.

Composição gráfica e texto de F.Torres

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